terça-feira, 22 de setembro de 2015


ABANDONO


– Não – murmurou Zarco para si próprio. – Não voltarei aqui.  Num último olhar, viu a filha aconchegada no sofá, que não cabendo na porta passara a integrar o jardim. Os olhares cruzaram-se por breves instantes, mas nem isso o detivera. Tinha uma vida para viver.
Agora, cansado de dormir em quartos que não o acolhiam, regressara, dando-se conta das marcas que o tempo escrevera. Sentado no sofá, reconheceu-o como parte de si, ambos votados ao abandono. Estava só.


Quita Miguel

Desafio nº 98 – fotografia de P Teixeira Neves

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